segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Penso que é tão fácil me conhecer, é só ler o que escrevo, é só ler meus olhos quando falo.Mas penso também que estou mudando muito, e mentir é uma saída para não compactuar com tudo isso.Quero que fique em mim a parte que mais gosto, mas ela vai embora toda vez que há uma tempestade.Então eu minto e finjo que ela ainda existe em algum lugar só meu, nem que seja um lugar escondidinho, lá na última repartição do peito.Mas não existe.
Me pergunto se isso tudo faz parte do que essas rugas e esse amontoado de anos chamam de amadurecimento, pra mim essa palavra melancólica poderia ser substituída por embrutecimento e só.Se tudo que vejo de flores,estrelas e sonhos é por não amadurecer, se tudo o que não passa pelo filtro da cabeça e tudo que eu vejo de especial nos outros é por falta de experiências.Se tudo o que eu tenho de mais sincero não me serve pra nada....
Mas a a gente não escolhe, aos poucos os girasóis na janela do quarto são substituídos por flores de plástico num arranjo de sala.As estrelas nem vejo mais, esse céu é sempre tão escuro. E os sonhos... ah! o sonhos, que aos pouco vão dando lugar a responsabilidade e sapatos de marca...
Penso que não estou ficando triste e maluca, estou envelhecendo.Amadurecendo.
" - Não há para onde ir, não há. Somos fracos, querido amigo... Eu era um indiferente, raciocinava com vivacidade e sensatez, mas bastou a vida tocar-me com a sua brutalidade para desanimar...para esta prostração...Somos fracos, não prestamos... O senhor também, querido amigo, o senhor também. É inteligente, nobre, bebeu as melhores intenções no leite materno, mas mal entrou na vida cansou-se e adoeceu... Fracos, fracos!"

Contos de Tchékhov, volume 2 - editora Relógio D'água

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"Dormi umas três horas e acordei ouvindo Quereres, de Caetano. Repeti, várias vezes, cada vez mais alto. Ah, bruta flor do querer. Discutia tanto com Ana Cristina César, antes que ela acolhesse a morte (acertadamente? Me pergunto até hoje, nunca sei responder): nossa necessidade fresca & neurótica de elaborar sofrimentos e rejeições e amarguras e pequenos melodramas cotidianos para depois sentar Atormentado & Solitário para escrever Belos Textos Literários."

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Delírios


Fiquei triste o dia todo,percebi que não sou nada além de um muro cheio de buracos. Buracos feios,fundos e que necessitam ser preenchidos.
Saio a caça de preenchimentos todos os dias, vezes acho,vezes não.Pra piorar,tudo me dói.Nessa chuva minhas partes quase completas se desfazem, volto pro reboco.
Chorei hoje, ontem e provavelmente chorarei amanha. Mas tenho me sentindo muito mais limpa, sinto que agora posso ver a cor das paredes de minha alma, não que isso faça alguma diferença nessa tempestade.
Queria saber se os patos também são tristes ,só sei que assim como eu tentam inutilmente fazer tudo e nada fazem certo.Claro que são tristes, choram todos os dias, são infelizes no fundo daquelas lagoas paradas e patéticas.Só lágrimas de quem fracassa todos os dias para manter as águas sempre cheias.

Queria me afundar nessas águas, sou tijolo peso muito,afundo fácil.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011


Já era tarde ,o calor e o som da televisão não me deixavam dormir.Escutei seu nome, olhei para TV e não quis acreditar - Era o seu carro.Paralisei por alguns minutos, vi sua foto passar, a moça com voz de trinca dizia algo sobre jovem demais e pista escorregadia.Tudo em mim ficou branco, não sentia meu corpo ,e da minha boca saia espuma.Pensei que fosse um sonho, bati violentamente a mão no meu rosto e não senti absolutamente nada, o interno pulsava cada vez mais rápido.
Não, não acreditei, confirmei minha teoria de ser o ser humano mais insignificante do mundo. E sentada naquela cama quente,que um dia já foi sua, eu me afoguei.
Seu rosto sorrindo misturava-se com sua imagem fria deitada no asfalto,ambos paralisados.Não havia dores para sentir, só a sua.
Há alguns dias, senti algo perdendo-se ,pensei em te ligar só pra dizer que estava tudo bem, mas já era tarde da noite, agora é tarde demais.
Cai num abismo, não há mais remorsos nem nada a ser feito. Tiraram meus braços e arrancaram meus olhos, tornei-me uma ameba inexpressivel.Não conseguia me sentir, e também não conseguia te sentir, tudo em mim acabará naquele exato momento.
Não, não é verdade que um filme passa em nossa mente quando a vida acaba, o que passou na minha mente foi um trator, algo muito pesado que me deixou entorpecida por dias.
Passei horas pensando na nossa viagem que deu errado, no dia da rodoviária, das flores, das brigas, de muitas brigas e da falta que me fizeram nesse tempo de afastamento. E o ódio do meu adiamento de aproximação, por orgulho,por nada...
- Agora era tarde. Essa frase rondava minha cabeça, e tudo no quarto gritava - "Ele foi embora,Carol,foi embora...".O sol veio me cobrir e desesperadamente tentava fechar os olhos de mar. Não conseguia.
Quis tonar uma bebida, entrar em coma e acordar daquele pesadelo.Pensei em ir embora, pensei em me jogar de frente de qualquer carro. Pensei em gritar pra qualquer um minhas dores ou acabar com aquilo tudo com uma corda no pescoço. Não fiz nada. A música do Zeca tocava na minha alma,e aquilo tudo não fazia sentido algum.
A cidade acordava, mas só eu sabia seu nome.Pessoas sorriam, mas só eu senti suas dores, a vida continuou mas eu estava com você naquele carro.Trituraram tudo, o afasto,o fusca,você e eu. Não havia vida em nós, mas queria ir ao seu encontro e tocar seus lábios pela última vez.
Quem iria te buscar naquela noite quente? porque a morte é tão metódica? E as súplicas,e os choros,e as vozes, de nada bastaram para permanecer um só dia a mais ao seu lado.
E se eu soubéssemos disso tudo? abraçaria seu corpo magro por uma última vez, e nada mais me importaria. Esquecerias tudo. Não haveria mais motivo para mágoa,rancor ou ofensa. Não nos deram essa chance.
Agora, alguns dias se passaram, mas a dor não ameniza.Penso sempre em você e nos seus olhinhos castanhos se fechando para você sorrir.Quando sorria...
Você ainda mora em mim, não há como tirá-lo.Me vens toda noite em sonhos dizer que está tudo bem,e que não precisarei mais ficar preocupada. Mas não consigo te responder, eu só queria estar com você de novo.Mesmo que esse novo doa. Mas eu sei, e você também sabe que é tarde demais

sábado, 5 de novembro de 2011

"[...]sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi, nunca nos escrevemos. não havia mesmo o que dizer. ou havia? ah, como não sei responder
as minhas próprias perguntas! é possível que, no fundo, sempre restem algumas
coisas para serem ditas. é possível também que o afastamento total só
aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar,
a investigar — e principalmente a fingir. fingir que encontra."
Esses olhos fundos e castanhos me chamam, tenho medo mas vou.Teus pelos pretos e ralos rentes aos meus, aos poucos locauteia-me ao seu peito.Tudo aqui é quente,sua mão inquieta só repousa sobre a minha e assim,timidamente nos confortamos.Não há profundidade,fito seus olhos perco-me no seu sorriso e sei cada traço do seu rosto,porém me abstenho dos seus segredos e tortuosidades.Mas a verdade é que tenho medo da sua escuridão,tudo agora parece-me limpo e claro que tenho receio de me perder nesse seu caos interno.