sexta-feira, 11 de novembro de 2011


Já era tarde ,o calor e o som da televisão não me deixavam dormir.Escutei seu nome, olhei para TV e não quis acreditar - Era o seu carro.Paralisei por alguns minutos, vi sua foto passar, a moça com voz de trinca dizia algo sobre jovem demais e pista escorregadia.Tudo em mim ficou branco, não sentia meu corpo ,e da minha boca saia espuma.Pensei que fosse um sonho, bati violentamente a mão no meu rosto e não senti absolutamente nada, o interno pulsava cada vez mais rápido.
Não, não acreditei, confirmei minha teoria de ser o ser humano mais insignificante do mundo. E sentada naquela cama quente,que um dia já foi sua, eu me afoguei.
Seu rosto sorrindo misturava-se com sua imagem fria deitada no asfalto,ambos paralisados.Não havia dores para sentir, só a sua.
Há alguns dias, senti algo perdendo-se ,pensei em te ligar só pra dizer que estava tudo bem, mas já era tarde da noite, agora é tarde demais.
Cai num abismo, não há mais remorsos nem nada a ser feito. Tiraram meus braços e arrancaram meus olhos, tornei-me uma ameba inexpressivel.Não conseguia me sentir, e também não conseguia te sentir, tudo em mim acabará naquele exato momento.
Não, não é verdade que um filme passa em nossa mente quando a vida acaba, o que passou na minha mente foi um trator, algo muito pesado que me deixou entorpecida por dias.
Passei horas pensando na nossa viagem que deu errado, no dia da rodoviária, das flores, das brigas, de muitas brigas e da falta que me fizeram nesse tempo de afastamento. E o ódio do meu adiamento de aproximação, por orgulho,por nada...
- Agora era tarde. Essa frase rondava minha cabeça, e tudo no quarto gritava - "Ele foi embora,Carol,foi embora...".O sol veio me cobrir e desesperadamente tentava fechar os olhos de mar. Não conseguia.
Quis tonar uma bebida, entrar em coma e acordar daquele pesadelo.Pensei em ir embora, pensei em me jogar de frente de qualquer carro. Pensei em gritar pra qualquer um minhas dores ou acabar com aquilo tudo com uma corda no pescoço. Não fiz nada. A música do Zeca tocava na minha alma,e aquilo tudo não fazia sentido algum.
A cidade acordava, mas só eu sabia seu nome.Pessoas sorriam, mas só eu senti suas dores, a vida continuou mas eu estava com você naquele carro.Trituraram tudo, o afasto,o fusca,você e eu. Não havia vida em nós, mas queria ir ao seu encontro e tocar seus lábios pela última vez.
Quem iria te buscar naquela noite quente? porque a morte é tão metódica? E as súplicas,e os choros,e as vozes, de nada bastaram para permanecer um só dia a mais ao seu lado.
E se eu soubéssemos disso tudo? abraçaria seu corpo magro por uma última vez, e nada mais me importaria. Esquecerias tudo. Não haveria mais motivo para mágoa,rancor ou ofensa. Não nos deram essa chance.
Agora, alguns dias se passaram, mas a dor não ameniza.Penso sempre em você e nos seus olhinhos castanhos se fechando para você sorrir.Quando sorria...
Você ainda mora em mim, não há como tirá-lo.Me vens toda noite em sonhos dizer que está tudo bem,e que não precisarei mais ficar preocupada. Mas não consigo te responder, eu só queria estar com você de novo.Mesmo que esse novo doa. Mas eu sei, e você também sabe que é tarde demais

Um comentário:

  1. Você escreve muito bem, parabéns!
    Estou seguindo o seu blog, segue de volta? :)
    http://seriesbooksmovies.blogspot.com/

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