quarta-feira, 12 de outubro de 2011

dor e aconchego

Rebecca Dautremer

Paredes sujas e um par de pés descalço,é a imagem que não saí da minha memória.
Perdi-me no imaginário da febre alta.Procuro imediatamente um ponto o qual eu consiga me apoiar, mas esse chão e essas paredes são feitas de pó.
Só me resta admirar esse teto, sem estrelas e sem nuvens, é apenas uma camada de concreto que a qualquer hora pode desmoronar. Tenho tanto medo que isso também caia, tenho tanto medo que isso doa.Mas as janelas pernamecem fixas.
O anseio de me apoiar a beirada e seguir os pedidos de ir pro chão é grande, se eu continuar olhando para baixo é só uma questão de tempo para o meu corpo ir também.
Não escuto mais nada.Hoje, fazem 5 dias que não ouço ninguém. Quem parou de falar? quem deixou de ouvir? talvez não caiba a mim entender.
A única coisa que eu conheço bem,é minha cama funda. Lá, eu jogo todos os traumas e dores, é a única coisa que tem me acolhido.É o único ser que me abraça sem depositar esperança alguma sobre mim. É o único ser que sabe quantas vezes eu já me degradei, mas isso não faz diferença alguma.
Aquela janela tem me chamado há dias,evito olhá-la. Talvez, se algo não me prendesse os pés com tanta força nessa cama, nossa relação seria melhor.Ela, traiçoeira diz-me que quer me mostrar paisagens, mas quando vejo não há nada. Há pessoas mortas por dentro andando bonitas na rua, vejo animais perdidos dentro de si e carros e mais carros num chão cor de breu. Mas é que daqui desse andar o chão cor de breu me parece tão calmo e silencioso, é como se me acolhesse como ninguém.Ele me chama.Quero tanto ir ao seu encontro.


Texto inspirado num trecho escrito por Cláudia Soares "Tinha muito medo de altura, mas, pela primeira vez, aquele medo parecia não importar.Continuava olhando pela janela do quinto andar com um único pensamento:"O que aconteceria depois que eu pulasse?""

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